É difícil imaginar que uma aldeia do interior de Portugal, a cinco horas de carro de Lisboa, fosse o local do nascimento de Pedro Álvares Cabral, o herói das navegações portuguesas. Mas a história é exatamente essa. Pedro nasceu em Belmonte, em 1467, e viveu ali até os 12 anos, quando se mudou para Lisboa.
Filho de nobres, o navegador morou por toda sua infância em um pomposo castelo, a principal atração da vila. Aberta para os visitantes, a fortaleza de 600 anos segue firme e forte ostentando suas altas muralhas e a torre. Mesmo vazio por dentro, vale a pena entrar e acompanhar as exposições temporárias que contam mais sobre a história do navegador e suas descobertas. No alto da torre, as bandeiras de Portugal, da União Europeia e do Brasil firmam a ligação que começou há seis séculos.
Para organizar e aproveitar melhor o passeio pela aldeia, que apesar de pequena é cheia de cantinhos para visitar, o ideal é deixar o carro em frente ao Castelo (o estacionamento é gratuito) e sair caminhando pelas ruelas contornadas por casinhas de pedra bem ao estilo das construções da Serra da Estrela.
Umas voltinhas por ali e logo surgem mais lugares relacionados à época do descobrimento. Uma delas é a estátua de Pedro Álvares Cabral que decora a pequenina praça da vila. O curioso é que, no ano em que a estátua foi inaugurada, em 1963, Juscelino Kubitschek, que já era ex-presidente, foi ao evento e aproveitou para discursar. Ao lado da estátua, os dizerem da carta de Pero Vaz de Caminha sobre a descoberta da Terra de Vera Cruz, escrita em 22 de abril de 1500, estão grafados em uma pedra.

Seguindo mais pegadas da época das navegações surge o Museu dos Descobrimentos, que faz uma retrospectiva dos 500 anos da história do Brasil. Ele é dividido em diversas salas interativas que começam mostrando a saída da esquadra portuguesa em busca de um novo mundo até terminar nas diversas expressões culturais do povo brasileiro. A visita é bem interessante e envolve o visitante em diferentes atividades, peca apenas no tom suave com que aborda temas cruéis como a escravidão e o extermínio dos indígenas.
Outra coleção que merece uma espiada é o Museu do Azeite. A ideia da mostra é apresentar o passo a passo da produção – desde a colheita das azeitonas até o envasamento. Ele é dividido em três pisos e um olival ajuda a decorar o espaço.
Se tiver tempo, acrescente também no roteiro o Ecomuseu do Zêzere – dedicado a mostrar a fauna e flora que brotam nas margens do Rio Zêzere. O mais famoso rio da região nasce na Serra da Estrela, a 1.900 metros de altura, e trilha um percurso de 248 quilômetros até desaguar no Tejo.
Antes de deixar Belmonte faça uma última visita relacionada a Cabral indo até a Igreja de Santiago. Ponto de parada dos peregrinos que fazem o Caminho Português de Santiago de Compostela, a pequena igreja tem uma Pietá feita em granito em seu interior e murais que simbolizam São Tiago e São Pedro. Anexo fica o panteão da família Cabral, onde estão enterrados os pais de Pedro.
Cultura hebraica
O passado de Belmonte é fortemente ligado às histórias dos judeus que viveram e vivem na região desde a Idade Média. Acredita-se que a primeira sinagoga foi construída em 1297, posteriormente adaptada ao culto cristão. A antiga judiaria é delimitada pelas ruas Direita e Fonte da Rosa, e inscrições nas paredes das casas testemunham a história desse povo obrigado a viver em segredo.

É possível fazer uma visita também à Sinagoga Bet Eliahu (mediante agendamento). Em 2017, o Museu Judaico foi reaberto e a coleção traz uma reunião de peças da Idade Média ao século 20 utilizadas por judeus e cristãos novos durante os cultos religiosos.
Onde comer
Um antigo alambique foi convertido na Casa do Castelo, um restaurante para os entusiastas da comida portuguesa que fica coladinho ao Castelo de Belmonte. É um casarão com janelas brancas e salão acolhedor com paredes de pedra e mobiliário de madeira. O menu não foge em nada da tradicional comida portuguesa. Arroz de pato, vitela assada, cabrito grelhado, ensopado de borrego (ovelha) e polvo à lagareiro. Entre as especialidades está a carne de javali. Preço médio dos pratos: € 20. Largo de Santiago, casadocastelo.net.
Já para quem quer petiscar e gastar menos, o Fio de Azeite Taberna tem um clima gostoso com mesinhas na parte de fora e entradinhas clássicas como alheiras de caça (€ 7), chouriço (€ 6), morcela (€ 6), tábua de queijo da região (€ 7,50) ou gambas (camarão) ao alho (€ 10). Praça da República 8.
Mais sobre Belmonte:
Distância: a 27 km da aldeia de Manteigas e a 301 km de Lisboa
Quanto tempo ficar: um dia, não é preciso pernoitar
Imperdível: os pontos que contam a história de Pedro Álvares Cabral são especialmente interessantes aos brasileiros
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